segunda-feira, 9 de março de 2015

Histórias de futebol: Ronaldinho e o cofre de moedas do meu filho


Todos sabem que eu participei da tentativa de repatriar o Ronaldinho para o Grêmio no final de 2010. Foi uma longa batalha já muito difundida, falada e conversada. Já contei aqui mesmo toda a história e o que entendi ser o motivo do fracasso na negociação. O assunto de hoje, no entanto, remete ao último dia da negociação e dá um enfoque mais familiar para o triste episódio na história recente do nosso Grêmio.

Depois de meses e meses conversando e negociando com os "Assis Moreira", chegamos ao dia final, o dia que enchemos o saco de tanta desculpa e de tanta enrolação. Era um sábado. Pela manhã, dos EUA, Ricardo Vontobel, então Vice-Presidente, me ligou dizendo que não entendia o que estava acontecendo e que mais uma vez teríamos que rever o contrato. Paulo Odone, minutos depois, me ligou e disse:

- Cesar, acabou. Vamos fazer uma coletiva hoje à tarde e sair desse negócio. Não somos reféns desses senhores.

Fiquei sentado na sala por alguns minutos em silêncio, minha mulher me perguntou o que havia acontecido e eu disse que iríamos, à tarde, desistir de contratar o Ronaldinho. Ela disse:

- Como assim, ontem estava tudo certo. Ontem à noite eles mandaram o contrato.

Respondi, com o olhar longe e sem entender:

- Pois é. Mudaram mais uma vez. E vão mudar outras 100 vezes. Odone está certo. Vou me arrumar e vou pro Grêmio. Parece que a coletiva está marcada para as três da tarde.

Nesse momento, o meu filho mais velho, o Felipe (aquele da bandeira do Grêmio), na época com 8 anos, chegou à sala e perguntou por que eu estava triste. E eu, pacientemente, expliquei pra ele que nós havíamos tentado de tudo para contratarmos o Ronaldinho e que eu estava triste porque tínhamos trabalhado nisso por longos cinco meses e que, no final, não conseguimos efetivar o negócio.

Ele, ali, teve uma reação que me fez (e faz até hoje) refletir sobre o que o futebol tem passado para as pessoas e, em especial, aos mais jovens. O Felipe foi ao quarto e buscou o seu cofre com moedas e disse:

- Pai, pode levar o meu cofre com o dinheiro. Eu ajudo. Mas não sei se vai ajudar. Não tem muito.

Aquilo me demoliu muito mais do que os meses de reuniões e reuniões, contratos e mais contratos, pedidos e mais pedidos. Aquele foi o lance mais duro de todo o negócio. Desde o início eu queria todos entendessem que a contratação de Ronaldinho era muito mais importante (para o Grêmio e Ronaldinho) do que o negócio financeiro entre as partes. E eu não havia conseguido, nem mesmo, convencer o meu filho disso.

Fui para a coletiva e o negócio acabou. E pra mim, o futebol nunca mais foi o mesmo.

Abs
César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
Share |