Todos sabem que eu participei da tentativa de
repatriar o Ronaldinho para o Grêmio no final de 2010. Foi uma longa batalha já
muito difundida, falada e conversada. Já contei aqui mesmo toda a história e o
que entendi ser o motivo do fracasso na negociação. O assunto de hoje, no
entanto, remete ao último dia da negociação e dá um enfoque mais familiar para
o triste episódio na história recente do nosso Grêmio.
Depois de meses e meses conversando e negociando com
os "Assis Moreira", chegamos ao dia final, o dia que enchemos o saco
de tanta desculpa e de tanta enrolação. Era um sábado. Pela manhã, dos EUA,
Ricardo Vontobel, então Vice-Presidente, me ligou dizendo que não entendia o
que estava acontecendo e que mais uma vez teríamos que rever o contrato. Paulo
Odone, minutos depois, me ligou e disse:
- Cesar, acabou. Vamos fazer uma coletiva hoje à tarde
e sair desse negócio. Não somos reféns desses senhores.
Fiquei sentado na sala por alguns minutos em silêncio,
minha mulher me perguntou o que havia acontecido e eu disse que iríamos, à
tarde, desistir de contratar o Ronaldinho. Ela disse:
- Como assim, ontem estava tudo certo. Ontem à noite
eles mandaram o contrato.
Respondi, com o olhar longe e sem entender:
- Pois é. Mudaram mais uma vez. E vão mudar outras 100
vezes. Odone está certo. Vou me arrumar e vou pro Grêmio. Parece que a coletiva
está marcada para as três da tarde.
Nesse momento, o meu filho mais velho, o Felipe
(aquele da bandeira do Grêmio), na época com 8 anos, chegou à sala e perguntou por
que eu estava triste. E eu, pacientemente, expliquei pra ele que nós havíamos
tentado de tudo para contratarmos o Ronaldinho e que eu estava triste porque
tínhamos trabalhado nisso por longos cinco meses e que, no final, não
conseguimos efetivar o negócio.
Ele, ali, teve uma reação que me fez (e faz até hoje)
refletir sobre o que o futebol tem passado para as pessoas e, em especial, aos
mais jovens. O Felipe foi ao quarto e buscou o seu cofre com moedas e disse:
- Pai, pode levar o meu cofre com o dinheiro. Eu
ajudo. Mas não sei se vai ajudar. Não tem muito.
Aquilo me demoliu muito mais do que os meses de
reuniões e reuniões, contratos e mais contratos, pedidos e mais pedidos. Aquele
foi o lance mais duro de todo o negócio. Desde o início eu queria todos
entendessem que a contratação de Ronaldinho era muito mais importante (para o Grêmio
e Ronaldinho) do que o negócio financeiro entre as partes. E eu não havia conseguido,
nem mesmo, convencer o meu filho disso.
Fui para a coletiva e o negócio acabou. E pra mim, o
futebol nunca mais foi o mesmo.
Abs