Em
noite de muita disciplina tática e eficiência técnica, Grêmio supera o medo da
altitude de Quito e avança para o mata-mata da Libertadores da América. A
vitória de 3 a 2 contra a LDU mostrou o amadurecimento da equipe tricolor.
Todos nós temos medos. À medida que amadurecemos, os medos mais
ingênuos desaparecem e outros mais complexos invadem o nosso psicológico;
superar esses medos para que eles não virem traumas é um desafio diário. Ontem
à noite, en La Casa Blanca, o Grêmio superou um medo que estava pronto para
virar um trauma:
Vencer no Equador contra a Liga Deportiva Universitaria na temida
altitude de quase 2800 metros acima do mar.
Claro que nenhum gremista temia a equipe da LDU, goleada
impiedosamente em Porto Alegre e aos pedaços com um treinador novo – o temor
estava em manter no ar rarefeito o padrão “Roger Machado” dos últimos jogos e
sair de Quito com a vitória.
Defendendo com duas linhas de quatro (Luan e Giuliano fechavam os
corredores laterais na linha do meio), o Grêmio suportou a pressão inicial dos
equatorianos. Já não bastasse a altitude, o campo estava pesado, empoçado e
nitidamente prejudicando a troca de passes das equipes.
Com a linha de defesa baixa (dentro da grande área) os cruzamentos da
LDU geravam calafrios na torcida gremista. Já haviam passados 10 minutos do
primeiro tempo e a LDU já tinha um gol anulado por impedimento e uma trombada
de Brahian Alemán em Marcelo Grohe; mostrando o estilo equatoriano de se impor
na partida.
Porém o Grêmio manteve fielmente o padrão tático proposto por Roger
Machado e os jogadores mostraram-se tecnicamente perfeitos no primeiro tempo.
Em duas finalizações, o tricolor marcou os seus gols com Douglas aos 12 minutos
(passe de Luan) e com Bobô aos 25 minutos (passe de Giuliano).
Ao final da primeira etapa, o medo da altitude estava controlado. Mas
ainda havia os 45 minutos finais onde a falta de ar e o cansaço fazem dos
adversários da LDU presas fáceis. E logo no início, antes do primeiro minuto, o
temor gremista logo voltou quando a LDU fez o seu gol com Quintero.
Se tática
e tecnicamente o Grêmio estava impecável, depois do gol equatoriano o tricolor
mostrou que também estava preparado psicologicamente. Consciente da sua melhor
condição técnica e encarando a altitude com sobriedade, o tricolor foi ao
ataque.
Assim, aos seis minutos, depois do rebote dado pelo goleiro Alexander
Domínguez, Wallace chutou forte para fazer 3 a 1. O golaço que coroava a grande
atuação do volante e a eficiência do ataque gremista – com qualidade para
trocar passes no ataque do lado direito e virar a bola para Marcelo Hermes
cruzar.
Na metade do segundo tempo o cansaço era evidente em alguns jogadores
do Grêmio. A equipe se livrava da bola e perdia a capacidade de mantê-la para
respirar na altitude. Roger demorou a mudar e a desacreditada LDU, de tanto
insistir (eram 13 escanteios a favor dos equatorianos), descontou em um chute
despretensioso de José Cevallos.
O medo de sucumbir na altitude voltava. A entrada de Bressan foi o
sinal de que o sofrimento gremista iria até o apito final. Mas Roger fez bem em
colocar o zagueiro e povoar a grande área; equilibrando em número a defesa
gremista contra os vários atacantes promovidos pelo estreante Álvaro Gutiérrez.
Ao final do jogo, extenuados, os jogadores gremistas comemoraram a
vitória e classificação as oitavas de final da Libertadores. Era a catarse de
quem superava um medo e evitava que ele se transformasse em trauma – um fator
psicológico que futuramente poderia alijar a equipe de melhores resultados na
competição.
É bem verdade que os 3 a 2 foi construído antes da bola rolar. A
equipe médica e logística do Grêmio merece aplausos. Médicos e fisioterapeutas
recuperaram Wallace (o melhor em campo), Bobô e por último Fred. E os sete dias
de aclimatação da equipe em Quito foram fundamentais para “ancorar”
positivamente a possibilidade de vitória na mente dos jogadores.
A fase de grupos ainda reserva um jogo para o tricolor melhorar sua
classificação geral para as oitavas de final da Libertadores. Entretanto, o
mais importante é que o Grêmio superou o medo da altitude e está pronto para o
mata-mata da competição.
Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA/Divulgação
Originalmente publicado no blog do autor no Torcedores.com