sexta-feira, 15 de abril de 2016

Opinião: Grêmio supera medo e avança na Libertadores


 
Em noite de muita disciplina tática e eficiência técnica, Grêmio supera o medo da altitude de Quito e avança para o mata-mata da Libertadores da América. A vitória de 3 a 2 contra a LDU mostrou o amadurecimento da equipe tricolor.
Todos nós temos medos. À medida que amadurecemos, os medos mais ingênuos desaparecem e outros mais complexos invadem o nosso psicológico; superar esses medos para que eles não virem traumas é um desafio diário. Ontem à noite, en La Casa Blanca, o Grêmio superou um medo que estava pronto para virar um trauma:

Vencer no Equador contra a Liga Deportiva Universitaria na temida altitude de quase 2800 metros acima do mar.
Claro que nenhum gremista temia a equipe da LDU, goleada impiedosamente em Porto Alegre e aos pedaços com um treinador novo – o temor estava em manter no ar rarefeito o padrão “Roger Machado” dos últimos jogos e sair de Quito com a vitória.

Defendendo com duas linhas de quatro (Luan e Giuliano fechavam os corredores laterais na linha do meio), o Grêmio suportou a pressão inicial dos equatorianos. Já não bastasse a altitude, o campo estava pesado, empoçado e nitidamente prejudicando a troca de passes das equipes.
Com a linha de defesa baixa (dentro da grande área) os cruzamentos da LDU geravam calafrios na torcida gremista. Já haviam passados 10 minutos do primeiro tempo e a LDU já tinha um gol anulado por impedimento e uma trombada de Brahian Alemán em Marcelo Grohe; mostrando o estilo equatoriano de se impor na partida.

Porém o Grêmio manteve fielmente o padrão tático proposto por Roger Machado e os jogadores mostraram-se tecnicamente perfeitos no primeiro tempo. Em duas finalizações, o tricolor marcou os seus gols com Douglas aos 12 minutos (passe de Luan) e com Bobô aos 25 minutos (passe de Giuliano).
Ao final da primeira etapa, o medo da altitude estava controlado. Mas ainda havia os 45 minutos finais onde a falta de ar e o cansaço fazem dos adversários da LDU presas fáceis. E logo no início, antes do primeiro minuto, o temor gremista logo voltou quando a LDU fez o seu gol com Quintero.

Se tática e tecnicamente o Grêmio estava impecável, depois do gol equatoriano o tricolor mostrou que também estava preparado psicologicamente. Consciente da sua melhor condição técnica e encarando a altitude com sobriedade, o tricolor foi ao ataque.
Assim, aos seis minutos, depois do rebote dado pelo goleiro Alexander Domínguez, Wallace chutou forte para fazer 3 a 1. O golaço que coroava a grande atuação do volante e a eficiência do ataque gremista – com qualidade para trocar passes no ataque do lado direito e virar a bola para Marcelo Hermes cruzar.

Na metade do segundo tempo o cansaço era evidente em alguns jogadores do Grêmio. A equipe se livrava da bola e perdia a capacidade de mantê-la para respirar na altitude. Roger demorou a mudar e a desacreditada LDU, de tanto insistir (eram 13 escanteios a favor dos equatorianos), descontou em um chute despretensioso de José Cevallos.
O medo de sucumbir na altitude voltava. A entrada de Bressan foi o sinal de que o sofrimento gremista iria até o apito final. Mas Roger fez bem em colocar o zagueiro e povoar a grande área; equilibrando em número a defesa gremista contra os vários atacantes promovidos pelo estreante Álvaro Gutiérrez.

Ao final do jogo, extenuados, os jogadores gremistas comemoraram a vitória e classificação as oitavas de final da Libertadores. Era a catarse de quem superava um medo e evitava que ele se transformasse em trauma – um fator psicológico que futuramente poderia alijar a equipe de melhores resultados na competição.
É bem verdade que os 3 a 2 foi construído antes da bola rolar. A equipe médica e logística do Grêmio merece aplausos. Médicos e fisioterapeutas recuperaram Wallace (o melhor em campo), Bobô e por último Fred. E os sete dias de aclimatação da equipe em Quito foram fundamentais para “ancorar” positivamente a possibilidade de vitória na mente dos jogadores.

A fase de grupos ainda reserva um jogo para o tricolor melhorar sua classificação geral para as oitavas de final da Libertadores. Entretanto, o mais importante é que o Grêmio superou o medo da altitude e está pronto para o mata-mata da competição.

Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA/Divulgação
Originalmente publicado no blog do autor no Torcedores.com


Luis Henrique Rolim
Análises esportivas além das quatro linhas













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