Tem sido frequente isto. Qualquer jogador que ameace, ainda que de longe, chegar perto do rei ele é acometido de uma incontrolável síndrome do pânico e abre a boca – a mesma que Romário disse que faz dele um poeta quando se cala – e lá vem bala: para ser melhor que eu tem que no mínimo ganhar 3 copas e fazer mais de 1 mil gols. E, claro, atrás dele marcha um mutirão nacional da mídia em defesa do nosso orgulho maior. Abram alas para as folias dos milhares de Armandos Nogueiras que ainda sobrevivem por este país. Armando Nogueira era um romântico nostálgico melancólico que lidava com as frases como se fosse brinquedo de criança. Até o nosso tetra campeonato ele também havia ganho 3 copas, só que as que ele ganhara foram as de 50, 82 e 86. A última vítima foi Messi. É só ameaçar o reinado que o centro bate no chão, tentando atingir a cabeça do desafiante. Coisa chata isto. Já diziam os antigos, a humildade é tão importante que quando pensamos que somos humildes já deixamos de ser. Pelé, cuja importância social no mundo nunca – em nenhum momento – dela se utilizou para lutar em nome dos negros, se transformou num publicitário da sua própria idolatria. Este mutirão da mídia faz com que se celebre a certeza de que contrariar o que o rei diz é POLITICAMENTE INCORRETO. Falar qualquer coisa contra seu estupendo ego então é um atestado de óbito para quem assina a fala. O apedrejamento vem de roldão. Pois não sou politicamente correto, e gosto de não ser. A postura concordina de ser politicamente correto implica no risco de nos transformar num imenso muro que beira ao puxa saquismo. Pelé nunca teve a humildade de reconhecer que quando foi rei o Santos tinha uma linha de 5, com ele, e que o time inteiro jogava magnificamente e para ele. Doval, Mengálvio, Coutinho e Pepe nunca recebem qualquer referência de sua Majestade, e foram eles, entre outros esquecidos, que deram a ele a fama que angariou. É preciso que se diga também que Pelé não ganhou 3 copas como apregoa, ganhou 2. Em 62 se machucou na abertura, ficou fora do torneio e no seu lugar, AMARILDO matou a pau e levantou a taça com mais merecimento do que o rei, que da conquista não contribuiu com quase nada. E nunca ganhou sozinho uma copa como Garrincha, por sinal, fez em 62 e como Maradona, com La Mano de Dios acabou por fazer. Não, por favor, não estou dizendo que Garrincha ou Maradona tenham sido melhor do que ele, antes do apedrejamento grito isto. Estou apenas relatando dois fatos. Aliás, 3 = ele não ganhou 3 copas, porque numa não jogou, não ganhou nenhuma sozinho e era muito mais aberto o futebol de antes, era muito mais fácil de se meter gol, hoje os estrategistas pensam ataque e defesa, é bem diferente. Fatos. Mais do que isto, este é um ponto que tem gente que é capaz de matar quando nele se toca porque afinal está se tocando no rei.... e em rei não se toca em vão .... é quase como se ser ateu num país cristão .... Pelé jogaria hoje o mesmo que jogou naquela época ? Ele, agora, depois de baixar o pau em Messi, ressaltou que foi uma pena que no período do Santos não houvesse tanta comunicação como hoje. Ora, mais idolatrado que ele e o Santos impossível, e talvez se houvesse tanta comunicação como hoje, talvez, o prestigio não fosse tanto. Messi, não tenho dúvidas, jogaria, naquela época, COM MUITO MAIS LIBERDADE, do que hoje. Maradona idem. Até Ronaldinho Gaúcho, faria talvez mais. Naquele tempo a tática era atacar e marcar gols. Não se jogava em carrossel como os holandeses descobriram e como o Barcelona tão bem executa. Gerson fumava 2 carteiras de cigarros por dia e por ai vai. Quem jogaria melhor os de hoje no passado ou os do passado hoje ? Meu saudoso pai foi jogador na década de 20 no vovô do futebol brasileiro, o S C Rio Grande, e tem seu nome cravado no museu do clube que empresta o dia da sua fundação para o consagrado dia do futebol, referendado pela CBF – 19.07. Me contava histórias maravilhosas dos primórdios deste esporte que nasceu em 1900 e ele acompanhou a evolução. Contava maravilhas de jogadores que jamais teremos vídeos do que fizeram, mas que os antigos conhecem, como o Negro Fruto e Carruira entre muitos mais. O apelido do meu querido pai era PATO, zagueiro e entre tantas histórias incríveis conta que na época não havia falta em goleiro que ao segurar a bola dela se livrava como o diabo da cruz, porque se o avante lhe enfiasse os dois pés e lhe empurrasse com bola e tudo para dentro do gol era sim senhores gol ! Então como saber como comparar um grande goleiro daqueles tempos com Julio César, por exemplo ? Os tempos mudaram demais, as regras demais. Leônidas, o Diamante Negro, inventou a bicicleta, diz-se, cujos registros raros estão em fotos .... Leônidas estaria no atraso da tecnologia de comunicação para Pelé como este para Messi. Quem assegura que antes de Pelé não houve outros tão bons ou melhores porque lhes faltaram divulgação ? Ah seu Pelé....O futebol de salão que hoje se joga nada tem a ver com o que se jogava em setenta, aliás até o nome mudou, hoje é futsal. Nem a bola não é mais a mesma. No futebol de campo a mesma coisa, nem a bola é a mesma, mudou tudo. Poderia até, como futsal, se mudar o próprio nome do esporte, o que não é feito dada a popularidade do seu alcance.
O fato incontestável, este sim, é que são épocas, mentalidades e métodos diferentes – hoje, ilustrativamente, o preparo físico é outro bem diverso – então não se pode comparar coisas diferentes em espaços de tempo tão distantes com culturas tão diversificadas. Pelé sem dúvida foi um estupendo jogador de futebol, O MELHOR DO SEU TEMPO, até onde os olhos e as histórias que são e vão sendo contadas alcançar. Mas era outro futebol, gostem ou não Srs. Armandos Nogueiras é como comparar a 1ª Grande Guerra Mundial e a forma como foi travada e a 2ª com a tecnologia de hoje, como se viu na recente invasão americana.
Querem saber, parem com estas comparações inúteis e muitas vezes enciumadas e despeitadas de quem quer se agarrar ao trono, como o próprio rei, quando a aposentadoria já bateu na porta. Pelé se tornou um chato com esta história, mas mais chato do que ele é esta mídia melancólica que incorporou a celebração dos anos de chumbo que tudo que é daqui é melhor, num ufanismo que tanto nos prejudicou, diga-se de passagem. O que importa é que o tempo é outro, ainda somos os melhores do mundo ? Sim, até que nos ultrapassem nos 5 campeonatos mundiais que conquistamos, até então o que vale é a conquista. No dia que isto acontecer, deixaremos de ser os melhores. Pelé é o melhor do mundo ? Não senhores, hoje o melhor do mundo é Messi, Pelé foi, ao seu tempo. Respeito a ele, sem dúvidas, um cidadão do mundo, mas chega deste papo CHATO e insuportável que a cada jogador novo e craque que nasce traçam paralelo com o passado e o rei fica todo urdido. A propósito ele se comparou a Bethovem.... Olha Pelé, quem sabe Roberto Carlos ... Menos, menos sua Majestade, menos, por favor..... Segue o baile.
@cajosias Carlos Josias