Ainda estou atordoado com os acontecimentos do final de semana em
Paris. Naturalmente, neste espaço, o assunto é futebol. Mas hoje, vou falar de
um assunto que, de certa forma, atinge todos os torcedores de todos os clubes
de futebol no Brasil: a intolerância e o radicalismo.
Fomos criados com a obrigação de termos uma bandeira, uma cor, um
time. Fomos e somos, nesta hora, segregadores e segregados. Dividimos o espaço,
o assunto e a maneira de ver a vida. O futebol, na nossa vida, é a
radicalização.
Quando falamos em seleção brasileira, por exemplo, precisamos odiar os
argentinos. Todos os dias, escutamos que os brasileiros precisam repudiar
"los hermanos". E, quem gosta dos argentinos, critica e
"seca" a seleção canarinho para ter a "obra completa". Nos
clubes, as saudadas rivalidades históricas são movidas e valorizadas todos os
dias. Flamengo e Vasco, Corinthians e Palmeiras, Bahia e Vitória, Grêmio e
Inter, Atlético e Cruzeiro são apenas alguns exemplos. Cidades pequenas e
clubes menores também convivem com isso nos seus redutos. Assim fomos criados.
Temos que amar as nossas cores, mas precisamos, também, odiar as cores do nosso
vizinho. Os mais exaltados usam isso como ferramenta de violência, como se na
torcida adversária não tivesse nenhum amigo seu. Quanto e quanto caso já tem
para dar exemplo...
E o que é isso? Ignorância? Estupidez? Ou nascemos e fomos criados
assim?
Pense nas suas atitudes. Você consegue analisar da mesma maneira os
erros e os acertos da sua bandeira? Você já cantou gritos ofensivos ao seu
adversário? Você já se sentiu ofendido por seu adversário? Que tipo de radical
você é? Você defende o quê, exatamente?
O futebol vive da segregação. Talvez esse seja o agente motivador da
paixão pelos clubes. Não somos, nesta hora, racionais. E não somos porque não
queremos. Queremos segregar. Essa é a nossa cultura, lamentavelmente.
Não tenho, obviamente, a intenção de comparar a paixão pelo futebol
com o radicalismo religioso dos episódios de Paris. Quero apenas criar uma
reflexão para o tipo de segregação que o futebol traz para o nosso cotidiano.