Coluna do Carlos Josias: Diretor Jurídico do Grêmio 93/98, Conselheiro 94/2010 e Vice-Presidente 2005/07. Josias @cajosias é colunista do Grêmio 100mil. www.facebook.com/cjosias.oliveira
INTRODUÇÃO
= esta coluna foi escrita em 13.12.2009 - tive o ímpeto de reproduzi-la porque
se trata de um ídolo sempre atual. Precisamos de um ídolo destes para voltar a
trilhar o caminho do qual nos desviamos desde 2001, ano no qual ele, o craque
do gol, o herdeiro de Lara, conquistou ali, na goleira, nossa última grande
taça... que se inspirem nele os que somos hoje !
Era 30 de
agosto de 1995. Às 5 horas da manhã Porto Alegre estava às escuras quando um
voo fretado partiu com destino a Medellín, na Colômbia, deixando um Salgado
Filho silencioso, frio e úmido. Mais de trezentos torcedores a bordo, na
fuselagem estava o destino em letras garrafais: RUMO A TÓKIO. Há algumas horas
dali o Aeroporto José Maria Córdova, perto de onde Carlos Gardel havia deixado
o tango e esta vida para trás, aguardava com expectativa a chegada de um tsunami
chamado ´torcida tricolor`. Do aeroporto ao hotel prosseguiu a marcha que
resultaria heroica, a cidade estrangeira estava sendo ´tomada` e paralisada
começava a assistir um fenômeno nunca antes visto.
E, na
chegada, tinha Fábio Koff e Cacalo cumprimentando um a um todos os torcedores
no desembarque: não é só no pátio em dia de eleições que eles são vistos
cumprimentando a torcida senhores – como insinuam vez que outra, desinformados
de ocasião, aqueles que da história do nosso Grêmio nada conhecem ou fingem
desconhecer e pouco participaram e se arvoram a dizer que são os donos desta
paixão enlouquecida e alucinante que toma conta dos corações de sete milhões de
torcedores.
Para
frequentarem as filas de eleições eles ergueram, antes, muitas e muitas taças e
as derrubaram sobre nossas almas sequiosas de conquistas, estas obtidas não aos
gritos narcisos-tarzânicos e lágrimas teatrais, mas na garra, na gana, com
talento e competência, amor desmedido, sacrifício, altruísmo, sem bandeiras
de promoções pessoais para angariarem projeções individuais em carreiras
outras, e acima de tudo em equipe como sempre o Grêmio conquistou tudo.
Aqui, além
de um aeroporto úmido e frio, ficou uma multidão, uma legião, uma imensidão de
torcedores agarrados às suas rezas, aos seus patuás, aos seus santos, aos seus
amores todos com um só foco, e uma invencível convicção: temos equipe!
E equipe se
alcança primeiro fora, depois dentro de campo. E lá dentro, onde tudo realmente
se decide, por onde começa um grande e inesquecível time? Por onde começa um
time mitológico que arrebata tudo que vê pela frente, que se nega a perder, que
soma conquistas umas por sobre as outras e que não dá tempo sequer do torcedor
respirar aliviado por uma glória porque já lhe empurra outra, que não vê cor na
imprensa – porque esta sequer tem tempo de achar outra no Estado, no Brasil e
no mundo – que não se intimida com arbitragem ruim ou prepotente, que corre a
laço e a drible quem quer que apareça por nossas bandas metido a macho,
periquito ou macaco, por onde afinal começa este time que se recusa a ser
derrotado, que vira placar, que segura jogo, que massacra o inimigo, que
acumula vitórias ano após ano, que não se contenta com um ano só de fama? Por
onde?
Tanta
expectativa, tanta emoção, tanta angústia, tanto nervosismo, tanta aflição. 7
milhões de almas com os olhos voltados para um único lugar. O Estádio Atanasio
Girardot abrigava 50 mil pessoas. Lotação total. Era um mar verde. O árbitro,
SALVADOR IMPERATORE andava de um lado para o outro esperando que a imensa
multidão de pessoas que estava dentro dá área de jogo terminasse trabalhos de
reportagem, entre outros, para dar inicio a 90 minutos que ficariam registrados
para 90 mil séculos. Porto Alegre estava às escuras, tal qual ficara quando
aquele avião fretado partiu, só que agora era noite, e agora era agora ou
nunca. Milhões de olhos em todo o país, do primeiro até o ultimo reduto
brasileiro, estavam paralisados na telinha de TV. Só se ouvia um brado: olê,
olê, olê, Nacional, olê, olê, olê, Nacional… Nacional… Quem tem coração que
aguente.
O Repórter
chega perto dele, que se aquece alheio a tudo, com um ar de quem está se
aprontando para ir ao cinema, e pergunta gritando, para ser ouvido, ao
microfone:
- Esse
canto ensurdecedor do estádio não vai perturbar o time em campo ?
Resposta –
Que canto ?
Repórter –
Este que a torcida entoa ?
Resposta
(colocando a mão na orelha como quem faz um esforço para ouvir) – Escuta,
presta atenção, eles estão gritando: DANRLEI, DANRLEI, DANRLEI.
A homenagem
do dia 12 é mais do que justa, é DEVIDA. Em 2001 pedi no Conselho Deliberativo
que fosse concedida uma láurea a este HOMEM GREMISTA. Na época o Grêmio
efervescia politicamente, e uma das ´desculpas` para que isto não ocorresse era
a de que ele ainda estava em atividade no clube. Hoje não está mais. E penso
que seria hora de sacramentar nosso maior símbolo moderno.
Uma equipe
dentro de campo, amigos, que quer conquistar e empilhar títulos como a de 93/98
inicia por um GRANDE HOMEM, tem que ser mais do que atleta, tem que ser mais do
que jogador de futebol, não basta ser aguerrido e forte, TEM QUE TER A CARA DO
GRÊMIO, TEM QUE SER DANRLEI!