segunda-feira, 7 de maio de 2012

Libertadores da América

Libertadores e Grêmio, como separar? Para nós gremistas é sem dúvida a competição mais importante e emocionante. Gostamos do estilo dessa competição, gostamos da energia, da garra que emanam os estádios em noite de LA. Não assisti o Grêmio ser campeão em 83, tive o privilégio de nascer campeã. Mas assisti a Libertadores de 95 e acreditem me lembro como se fosse hoje dos jogos no Olímpico e no Palestra Itália. Grêmio x Seleção Parmalat. Eu tinha apenas 6 anos, mas quando o Grêmio bateu o poderoso Nacional lembro da correria, gritaria... E do meu pai ter entrado do carro e me esquecido na área da casa! Minha mãe então avisou ele e que voltou pra me buscar. Seria meu batismo tricolor, morávamos no Paraná, em torno de 12 quilômetros da cidade (Guaraniaçu). Lembro nitidamente de ao entrarmos na avenida tomada de gente (gaúchos ou filhos de gaúchos que moravam lá), vi um senhor de camisa do Grêmio que carregava nos ombros um menino com a camisa do Inter. E assim era por toda a cidade, colorados comemorando junto com os gremistas o título do gaúcho que era o dono da América mais uma vez. Estou chorando ao relembrar essa história, é impossível lembrar daquela festa e não reviver a emoção. Quando finalmente paramos na praça da cidade para nos juntarmos a todos os amigos, meu pai notou que eu estava de pés descalços! Na confusão ninguém lembrou de me dar um calçado.

Quando finalmente chegamos a Libertadores de 2007, na final com toda a festa preparada a imagem daquele longínquo 95 me veio a tona e perguntei ao meu pai: “Pai, será que aquele menininho que estava de camisa do Inter nos ombros do pai virou gremista?”. Meu pai surpreso, e sem nem imaginar do que eu estava falando me olhou perplexo. Ele não se lembrava, mas eu lembrava da minha indignação ao cruzarmos por aquela cena naquela noite. Eu havia perguntado: “Pai, se ele é colorado, por quê tá aqui comemorando o NOSSO título?” meu pai havia respondido: “Aqui é assim, quando um gaúcho ganha os dois comemoram, porque importa é nunca esquecer da onde viemos.”. Ao relembrar o fato em 2007, com um olhar distante meu pai respondeu apenas: “eu acho que sim”. Eu acrescentei: “eu tenho certeza que ele é gremista, é impossível ele ter vivido aquele momento e não ter se apaixonado por aquele time.”

Toda essa história, tudo isso é só para mostrar o quanto essa competição marca a vida de um gremista. O quanto significa para nós sermos campeões da América e porque quando os que não são merecedores vencem isso nos indigna. Mas a Libertadores de 2007 tinha de ser nossa, foi no nosso estilo e nos deixa amargurados até hoje. Nós acreditamos até o último minuto, acreditamos no Capitão Tcheco e sua equipe. Eles não nos decepcionaram, porque desde o início sabíamos que só chegamos a final porque a garra falou mais alto que a técnica. Vou reproduzir aqui um trecho do texto que fiz para a “Saga Libertadores”:

“O bravo Grêmio do capitão Tcheco, de Lúcio, Lucas Leivas, Sandro Goiano e Carlos Eduardo comandado por Mano Menezes era visivelmente mais fraco que seus adversários tecnicamente, um misto de garotos e homens mais experientes, mas que em tudo lembrava o Grêmio de 1995, fraco individualmente e forte no coletivo e um grande técnico no banco, mais uma vez. Essa equipe fez o possível e impossível para ser campeão nessa edição. Em jogos disputadíssimos o Grêmio fez valer o motivo de ser considerado Imortal, e um dos jogos mais saborosos? Eliminar o “poderoso” São Paulo, que foi considerado favorito em absoluto pela imprensa paulista e dava como suficiente o 1x0 no Morumbi para tirar o Imortal Tricolor da Libertadores, mas o final dessa partida? A memória que tenho guardada é a bola sobrando na área de Rogério Ceni, picando para Tcheco bater e fazer o gol que soltou o grito preso na nossa garganta e o veredicto final veio com Diego Souza. Não menos emocionante que os pênaltis contra o Defensor. E é claro a semifinal polêmica contra o Santos e Pelé é claro. O grande herói sem dúvidas foi Tcheco por marcar gols decisivos nos três jogos mata-mata. Os quais acertei todos os resultados, exatamente, só errei um resultado: A final.
A dolorosa final contra o Boca Juniors, em que apostamos todas as nossas fichas que Tcheco faria o gol que nos faria respirar novamente, mas isso não aconteceu. A velocidade de Lúcio, audácia de Carlos Eduardo e Lucas e a raça de Tcheco não foram suficiente contra o Boca Juniors de Riquelme.
Sem dúvidas foi o maior espetáculo já dado por uma torcida para um time que PERDEU a competição mais importante para o clube. Foi puro delírio gremista aplaudindo, os atletas visivelmente abatidos e que choravam ao sair de campo, vendo que o sonho do tri havia escapado ainda em La Bombonera e que a pressão de um Olímpico completamente lotado por uma torcida que acreditava, inacreditavelmente, nos 4x0 sobre o segundo maior campeão da Libertadores. Confesso que tremo ao ouvir o nome da equipe argentina. Senti repulsa pela “catimba” deles nos jogos e que tenho terror em pensar em enfrentá-los novamente. Por não confiar no Grêmio? Não, por achar que os Deuses do futebol foram injustos, em especial nesse caso.
Após esse episódio, e a imprensa ter tripudiado com piadinhas sobre o Imortal Tricolor, só se fez aumentar nossa “gana” por esse título. Em 2009 o Grêmio vai em busca do Tri com uma equipe experiente, que fez a melhor campanha da Libertadores até ser eliminado pelo Cruzeiro, em um jogo tumultuado e repleto de oportunismo do clube e da imprensa anti-Grêmio. Fato o qual impressiona, a raiva da imprensa do resto do país com o Grêmio. Mas sem mais delongas, o nosso carrasco novamente nas quarta de final foi o Cruzeiro, cheio de “marra” e se contando campeão, o que não aconteceu pelo contrário, o Estudiantes fez 2 gols no Mineirão, e eu senti a alma lavada, em partes.”

Aline: Falar de Tcheco e não lembrar de 2007 é impossível. Gremista de verdade, enche os olhos de lágrimas ao lembrar daquela Libertadores. Em minha humilde opinião, uma Libertadores de raça, de garra de imortalidade. Todos sentem um gosto amargo de que poderia ter sido diferente, você concorda? Onde o time pecou?

Tcheco: “Se parar pra lembrar, quando começamos a Libertadores o grande objetivo era passar da 1ª fase, depois tirar o São Paulo que era o atual campeão, o Defensor com 2x0 depois do desempenho fraco que tivemos no Uruguai. E depois o todo poderoso Santos, todo badalado, e nessas fases todo jogo com o tom dramático, que valorizou mais ainda nossa equipe. Mas na final, no primeiro jogo acabou encaminhando o titulo do Boca, talvez se estivéssemos com 11 jogadores o jogo todo, poderia ser diferente, mesmo perdendo com uma diferença mínima, nos teríamos outra estratégia pro 2º jogo. Poderíamos fazer um final feliz e coroar um grupo que não tinha crédito pra chegar numa final e junto com uma torcida que estava carente de grandes jogos, e que resgatou novamente aquele torcedor que estava descrente do gremismo, e que ficou marcado também pela maneira que a torcida se comportou, mesmo depois da derrota, me lembro que tinha muitos gremista com a camisa nas ruas, isso nos dava orgulho, tanto que no próximo jogo pelo brasileirão, ganhamos grenal, no Beira Rio. Então, essa libertadores vai ficar marcada pra muitos, por um grupo que honrou mesmo, na raça, tática, torcida, desbancando times melhores tecnicamente, mas o título não veio porque encontramos um time com um jogador muito inspirado na final.”

Aline: Ainda sobre a LA07, havia algo de diferente naquela edição quando comparada as outras edições que você disputou?

Tcheco: “Pra mim a grande diferença mesmo era a atmosfera que a torcida envolvia no Olimpico. Não sei se era porque estava algum tempo sem disputar a Libertadores, ou se o Inter tinha sido campeão no ano interior, mas jogar no Olímpico aquele ano foi diferente até mesmo que em 2009.”

Aline: Qual era o espírito da equipe antes do jogo final, contra o Boca no Olímpico, o time tanto quanto a torcida acreditava na virada histórica?

Tcheco: “A gente acreditava sim, a torcida fazia a gente acreditar durante a semana. E nós queríamos pelo menos fazer um gol no 1º tempo, mas eles tiraram uma bola de baixo do gol e o Schiavi cabeceou uma bola na trave, num escanteio ou falta, não me lembro, isso nos desgastou muito pelo ritmo do 1º tempo. Mas não deu certo e logo que começou o 2º tempo eles fizeram um gol, ai não dava mesmo.”


                                                  @alineremus Gremista desde sempre
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