Estávamos no Chile para uma decisão que valia vaga nas quartas de final
da Libertadores de 2011. Precisávamos vencer e o clima não estava dos melhores.
Estávamos com alguns desfalques e sabíamos que o jogo seria muito difícil. A
história que eu vou contar, no entanto, nada tem a ver com futebol.
Chegamos a Santiago na segunda e o jogo seria na quarta. Na terça à
tarde, fizemos um treinamento no local da partida e alguns torcedores do Grêmio
foram prestigiar. Alguns chilenos curiosos, alguns gaúchos que moravam lá e
alguns torcedores que foram para ver a partida. Cerca de 10 pessoas estavam
acompanhando o trabalho. No meio deles um menino com pouco mais de 10 anos e
uma câmera fotográfica. O treino terminou, a maioria foi embora e o menino se
aproximou e começamos a conversar.
O menino era chileno, filho de um brasileiro e fanático pelo Grêmio.
Contou que a sua paixão vinha do pai e que nunca tinha tido a oportunidade de
ver o Grêmio de perto. Aos poucos, o menino foi ficando emocionado e nos contou
que o pai havia morrido há pouco mais de um ano e o Grêmio o aproximava do seu
pai.
Naturalmente ficamos muito sensibilizados com o carinho do menino. Foi
aí que chegou o técnico Renato. O menino disse, aos prantos, olhando fixamente
para o treinador:
- Pai, ele existe mesmo, disse o menino, como se estivesse falando com a
alma do próprio pai.
Renato riu, brincou, fez a alegria do menino, que ficou muito feliz.
Todos já estavam no ônibus e somente eu, Renato, Vicente, Simões e o menino
seguíamos no campo conversando. O menino, então, nos disse que a câmera dele
havia ficado sem bateria e que não tinha como registrar aquele momento. Além
disso, não havíamos dado nenhuma lembrança do clube para aquele anjo que
apareceu naquele final de tarde no nosso treino. Nos despedimos. O menino, com
um sorriso aberto, saiu caminhando pelos campos da universidade e nós fomos
para o ônibus.
O ônibus demorou ainda alguns minutos para sair e nós quatro não
trocamos uma palavra sequer, como se estivéssemos adormecidos pela história. O ônibus
manobrou e começou a sair do complexo. Foi quando Renato deu um grito mandando
o motorista parar o ônibus.
- Motora, para aí, para aí. Abre a porta, por favor.
O motorista abriu a porta e o Renato desceu correndo. Ele havia visto o
menino, sozinho, voltando para a sua casa com a câmera sem bateria e sem
nenhuma lembrança daquele momento. Foi então que ele tirou a própria camisa e
deu para o menino. Esse guri pulava e abraçava o nosso treinador como se
tivesse ganho um campeonato mundial.
Renato voltou para o ônibus com um sorriso aliviado no rosto.
Perdemos a partida no dia seguinte e fomos eliminados, mas o futebol me
mostrou que pode ser muito maior do que uma derrota ou uma vitória e Renato, o
ídolo eterno de todos os gremistas, mostrou o tamanho do seu coração.