O texto que
apresento abaixo não é meu. Mas é real. Com o pedido de manter os nomes em
segredo, ao receber indaguei se podia publicar, tal a emoção que senti diante
de tanto Gremismo. Foi escrito por um filho face episódio, recente, com seu
pai, este acometido de enfermidade grave que lhe retirou a memória e o
reconhecimento das pessoas.
18/08/2016
17:46
A vida nos
apresenta questões difíceis de entendermos. O envelhecimento dos nossos pais,
por exemplo, desencadeiam reflexões que viajam por nossa existência e terminam
na dura tarefa de respeito pela força do tempo.
Sempre fui
muito ligado ao meu pai. É o meu grande exemplo. Me ensinou tudo. Seu maior
legado talvez tenha sido o respeito ao contraditório. Sempre gostou de
conversa. Ouvia muito e falava com propriedade. Conhecia as pessoas e aceitava
as diferenças. Uma doença difícil, dura, diminuiu a sua capacidade. Lutador,
ele tem enfrentado com força o destino que traçaram pra ele.
Hoje,
estive por horas ao seu lado. Só nós dois, como nos velhos tempos. A memória o
trai atualmente. Ele não lembra quem eu sou. Ficamos sentados. Ele falava
palavras desconexas, que, incrivelmente, foram ganhando um sentido. Tentei
puxar assunto, mas não era comigo que ele falava.
Aos poucos,
ele foi aumentando as palavras e cantarolou algo. Demorei a entender e fui me
fixando naquilo. Ele seguia com o olhar longe, fixo, muito além daquele pequeno
espaço que nos encontrávamos.
Ele seguiu
cantarolando e achei familiar o que ele tentava dizer. Era o hino do Grêmio.
Meu pai tentava cantar a eterna música de Lupicínio Rodrigues.
Comecei,
então, a cantar o hino do Grêmio desde o início e ele, automaticamente, parou
de tentar e me olhou fixo. Dentro dos meus olhos, ele sorriu lindamente. Segui,
aos prantos, a cantar. Ele ficou calmo, seguiu sorrindo, e ajudava sempre que
surgia a palavra GRÊMIO. Do jeito dele, quase imperceptível, mas um "Grêmio"
do fundo de sua alma. Um Grêmio que não se esquece, nem que a memória já não
consiga ajudá-lo.
A vida,
como disse no início, nos coloca em situações complexas, difíceis, mas sempre
nos ensina. No nosso mundo, as afinidades e as conexões das pessoas ganham
contornos universais. O Grêmio foi sempre um assunto e um convívio importante
na nossa relação. Pois na tarde de hoje, acamado e sem memória, o meu velho pai
descobriu no Hino do Grêmio a forma de dizer que seguimos conectados e muito
fortes.
Até a pé
nós iremos,
Para o que
der e vier
Mas o certo
é que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Respeitem
os seus amores, criem conexões, curtam o seu tempo e vivam a vida. E cantem,
cantem muito.