As estrelas costumam entrar em campo no futebol. No Olímpico monumental invadem também as arquibancadas. Muito se fala na vantagem que é jogar em casa, mas poucos clubes tem a força que o Grêmio tem. Não estamos falando de decisões, onde lotar estádio e ouvir a torcida do time da casa cantar é comum. Estamos falando do dia-a-dia. Que outra torcida canta 90 e poucos minutos em jogo de campeonato estadual, onde o time entra só pra cumprir tabela?
Aqui é assim: “Treino é jogo e jogo é guerra!”... Jogador que não entende isso não pode jogar no Grêmio. Jogador que não tem alma, que não se doa, que tem medo de carrinho não serve aqui. Aqui nos pampas o jogo é pegado. Não confundam com violento, tem muita diferença. A batalha é aguerrida, o espírito farroupilha povoa o mítico Monumental. Quem entende isso, incorpora e respeita tem lugar cativo no campo de batalha e no coração dos soldados da arquibancada.
Quem leu o texto anterior pode ter ficado confuso com a comparação entre Hércules e Tcheco. Ao falar do misticismo que envolve o Olímpico, as coisas devem ter ficado mais claras. Hércules nunca foi unanimidade, sempre duvidaram de sua força e aos poucos ele foi provando que era o filho de Zeus e que caminhava em busca da imortalidade. Tcheco nunca foi unanimidade, sempre batalhou para vencer os críticos, jogou cada jogo como se fosse o último, mostrou que era filho daquele lugar e que queria a imortalidade. Mais claro agora?! Bom vamos seguir então...
“O jogador não tem dimensão e nem noção do carinho que a torcida tem pelo jogador, e eu não tenho essa noção.”
Tcheco foi aos poucos conquistando a torcida mais apaixonada do Brasil. Mostrando que era mais um apaixonado, que via o mesmo que nós e queria o mesmo. Ele buscava colocar o Grêmio no seu devido lugar, devolver-nos a imagem de campeão, de intocável, de feitos INACREDITÁVEIS. Quando se tem os mesmos objetivos fica difícil os caminhos não se cruzarem, as trajetória não se tocarem e por fim formar uma mesma reta.
A torcida foi vendo um pouco de si no Tcheco e Tcheco vendo a ele mesmo naqueles guerreiros da arquibancada. Tcheco demonstrava seu carinho pelo clube a cada gol, cada vitória a cada derrota. E a torcida aos poucos foi demonstrando seu carinho a cada treino, cada jogo, cada decisão. No fim já sentíamos como se tivéssemos um torcedor comandando a equipe tricolor. Era assim que te víamos Tcheco, um elo entre a arquibancada e o campo. A prova de que o Grêmio não é apenas uma equipe de futebol, é um todo. É o misticismo que envolve o Monumental, é a garra... É mais amor que técnica. Talvez ele tenha se tornado tão importante para torcida, porque veio em um momento difícil e nos devolveu a esperança, mostrou que o espírito do Imortal estava lá e sempre estaria.
Aline: Se houver, qual a diferença entre o carinho que recebes da torcida do Grêmio e do Coritiba?
Tcheco: “A torcida do Coritiba é muito carinhosa comigo, tive sempre uma relação boa com os torcedores do coxa. Mas minha passagem no Grêmio foi muito marcante, por isso a relação da torcida comigo é muito forte em termos de demonstração de carinho.”
Aline: Tcheco, você acredita que o Grêmio já tenha encontrado um substituto para você na linha e no coração dos gremistas?
Tcheco: “O jogador não tem dimensão e nem noção do carinho que a torcida tem pelo jogador, e eu não tenho essa noção. Mas acho que jogadores melhores que eu o Grêmio já teve e tem, mas tem que dar tempo pra eles também, o futebol é muito dinâmico, sempre troca de jogadores, por isso tempo é necessário pra jogador se tornar importante, como o Victor.”
Aline: Alguns jogadores dizem que sequer escutam a torcida devido a concentração no jogo. Você concorda, ou acha que o peso da torcida no Olímpico faz diferença?
Tcheco: “Realmente a concentração é grande mesmo, adrenalina é grande também, e você esquece realmente que em alguns momentos o estádio está lotado. Mas isso é em alguns momentos, porque quando a bola sai pra escanteio, ou a torcida vaia o outro time quando o outro time está com a bola, ou o time está pressionando e a torcida apoia mesmo, ai você pode ter certeza que qualquer um sente a força da torcida.”
Aline: Quando você foi ao Olímpico, jogar o Campeonato Brasileiro pelo Coritiba contra o Grêmio, o que você sentiu? Você esperava a reação que a torcida teve? Como é estar do outro lado?
Tcheco: “Eu fui primeiro com o Corinthians, fazia 3 meses que tinha saído de lá, eram 30 minutos do segundo tempo o Mano chamou eu e o Paulinho, e só tinha uma substituição. O Mano disse: tô pensando em fazer isso e tal, tô pensando em colocar um de vocês dois. Aí eu disse: então coloca o Paulinho que é melhor. Não quis entrar naquele jogo porque tive opção, sei lá porque fiz isso. Mas pelo Coritiba eu ia entrar jogando, foi diferente entrar pelo vestiário contrário do de costume, não imaginava aquela recepção também, me emocionei. Mas depois do jogo, fui pro doping e entrei no vestiário, cumprimentei todos, fui na sala de entrevista, parecia que eu jogava lá ainda, só tinha dado um tempo e voltado, todos me receberam bem lá, como disse antes do jogo, estava voltando prá casa, e realmente era como me sentia.”
Aline Remus, Gremista desde sempre. @alineremus