A história de Mano, no Grêmio, teve seu início contado aqui:
http://2toquesulbratv.blogspot.com.br/2013/05/coluna-de-carlos-josias.html?showComment=1367893651388#c6895617680322038015
Convivi intensamente com ele em 2005, como disse, e repito, fui a todos os jogos do Grêmio em 2005. Não fui e não sou um profundo conhecedor do treinador, Mano, e acho que nunca, ninguém, conhece profundamente outro. Mas penso que o que conheci foi suficiente para reconhecer nele um grande profissional e um belo ser humano. Quando me dispus a prestar apoio político ao vestiário - como contei na coluna supra - naquele ano, sabia bem a minha função. Procurei vigiar sem atrapalhar, o que me parece já ser uma grande percepção. Assistia a todos os treinos mas na Batalha dos Aflitos me afastei deles, e deixei o time livre com o treinador, com os dirigentes do futebol, para vencerem aquela tarefa - que pressentia seria árdua, nunca imaginei o quanto - sem pressões. Fiz isto e toda a direção também, inclusive Odone, que bem entendeu aquele momento e o viveu com imensa capacidade emotiva, mas também administrativa. Minhas diferenças com ele, Odone, não me fizeram cego para o que ele fez de bom.
Às vésperas do jogo estava sentado numa mesa solitária, numa parte qualquer do restaurante, e sentou-se ao meu lado o repórter Darci Filho, homem experiente no setor que me fez companhia e me assaltou com uma frase lapidar que talvez nem ele se lembre: admirável, vocês não se intrometeram nos treinos, não intimidaram ninguém com a presença e deram à distância a solidez para se chegar no objetivo - nosso dormitório, o diretivo, mantinha uma separação razoável da hospedagem dos atletas cujo contato se limitava às refeições - este o grande mérito desta direção, vão ganhar.... Pensei, puxa, alguém entendeu isto !
No último dia, um antes da partida e antes da mudança de todos para o hotel da cidade, para relaxar, empreendemos uma pequena caminhada por água, outros foram de barco, em direção a uma ilha que ficava muito próxima ao local da concentração - menos de 100 metros. Era muito pequena e comprida a ilhazinha, tinha um nome que a minha memória quase fotográfica não recorda com exatidão, algo pequeno e ligado à engrenagem do avião, que refletia exatamente a sua territorialidade, menos de 1 km de comprimento, talvez 500 metros de largura se tanto. Lá nos pusemos com os pés no mar a bebericar algo, coisa que até então não havia sido feito, degustar alguns frutos do mar pescados ali mesmo e falar sobre tudo. De repente vislumbramos um helicóptero sobrevoando o local. Não foi dada importância ao fato.
Em meio às comemorações um fotógrafo nos mostrou várias fotos sacadas. Foi divertido. Em meio a risos alguém mais lúcido avisou: se a classificação não fosse alcançada diriam: dirigentes marajás se embebedavam e se empanturravam ... por isto não deu certo ... por isto o fracasso....coisas do futebol que só entende quem vive ... faz parte.
Durante todo o período que estive no clube como Vice, de 2005 a 2007, dos Aflitos, ao Vice da LA, Mano sempre foi o mesmo. Homem modesto, simples, humilde, e de comedidas palavras. Dirigente assistia às palestras. Estive com ele no vestiário em muitos momentos ruins, muitas das vezes eu, ele e Pelaipe, depois que todos tinham ido para suas casas e as entrevistas - pesadas, como sempre, no infortúnio - se encerravam. Ficávamos ali, preocupados, planejando o dia seguinte. Na vitória ou na derrota, ele era o mesmo. No café da manhã a mesma pergunta e a mesma resposta:
- como estás ?
- tudo bem, até amanhã ...amanhã não sei ....
- porque estás tão magro ?
- treina aqui prá ver se não vais perder peso ...
- rsss
E seguia a vida.
Dos Aflitos para o Vice da LA em 3 anos.
Mano saiu do Grêmio pela porta da frente.
No Corínthians fez o que fez e saiu ovacionado pela torcida. Saiu também pela porta da frente. Treinador que começa na Seleção, raramente termina. Felipão, outro grande treinador, pegou uma seleção com plantio, esta é que é a verdade.
Toda a unanimidade é burra, disse o dramaturgo. Não penso que pode haver unanimidade em torno do nome dele, nem quero. Se vier, não sei se dará certo, futebol é ingrato. Mas de uma coisa tenho certeza. Ele será o mesmo que foi. Não faltará alguém para enumerar pecados, e que não os tiver que atire a primeira pedra. Não faltará alguém para lembrar de Anderson, no vestiário ... pois digo, poucos entenderam a atitude dele, talvez nunca entenderão ... eu digo: talvez o guri não desse no que deu se não tomasse aquele tapa na orelha ... e talvez não tivesse metido aquele gol no Náutico ! Pois é.
Eu apostaria nele. E para não ficar em cima do muro = meteria Homero Bellini Junior ou Airton Ruschel na VP. Escolham.
Opinião é para ser dada. Muro, até o de Berlin caiu !
abs