Confesso pra vocês que o fantasma Ronaldinho me
atordoa desde a fracassada tentativa de repatriá-lo para o Grêmio no final de
2010. Pensei em tudo naquele momento. Sabia da dificuldade, dos riscos, mas
consegui convencer tanto o Paulo Odone quanto o Antônio Vicente Martins que
podíamos tentar e que seria bom para o Grêmio.
O meu raciocínio era o seguinte. O Inter vinha de
muitas conquistas e precisávamos dar uma resposta no marketing (envolvendo o
futebol) que pudesse mexer com todos. Além disso, naquele momento, a relação
dele com o clube também era um assunto mal resolvido. Consegui o apoio e
fizemos tudo certo. Desde o projeto, reuniões, propostas, enfim, tudo que
envolvia aquela difícil equação.
Ronaldinho, segundo as pesquisas, tinha uma marca
muito valiosa fora do Rio Grande do Sul e os gremistas, na sua grande maioria,
apoiariam o seu retorno. Fomos a campo e perdemos. Perdemos feio. Eu, como
dirigente, por exemplo, terminei exatamente naquela negociação. Nunca consegui
entender como que um jogador criado em um lugar por mais de 10 anos pudesse
fazer o que ele fez e da maneira que fez. Tínhamos a melhor proposta e o melhor
projeto, mas o que eu pensava nada tinha de envolvimento financeiro ou tempo de
contrato. Pensava eu que aquela era a chance do próprio Ronaldinho refazer a
sua relação com a sua casa. Acreditava, sinceramente, nisso. Achava que isso
definiria a situação em favor do Grêmio. Acreditava nisso mesmo depois de saber
que os valores da nossa proposta eram maiores que os outros negócios que
estavam sendo tratados pelo irmão (mandalete) dele.
Não deu. Ou melhor. Deu. Por mais dolorido que tenha
sido, foi uma grande sorte não ter o Ronaldinho e os seus por perto. Ronaldinho
não tem nada. Teve talento e muito. Desfilou isso por alguns anos por vários
lugares, mas além do talento, não tem nada. Ronaldinho não tem casa, como eu
imaginava.
No início do texto, falei que um dos pilares do
projeto era mexer também com o marketing. Balançar com as crianças, cuja
geração, é, em peso, colorada. Imaginei que a sua contratação pudesse mexer com
essas crianças. E esse também foi um erro crasso cometido por mim. Ronaldinho é
um péssimo exemplo. Seu nome acabou virando sinônimo de coisas ruins para o
futebol ("leilão" e "bebedeira" devem fazer parte das
menções do Google quando se digita a palavra Ronaldinho). Graças a Deus não
entregamos isso para as nossas crianças tricolores.
Para vocês terem uma ideia desta loucura, o dito
"empresário" de Ronaldinho ofereceu o atleta mais três vezes para o Grêmio
depois daquela maldita negociação. Ou seja, um sem noção, sem vergonha, sem
nada. Hoje defino Ronaldinho como um sem vergonha! Ele não sabe o que é ter
vergonha. Ele não consegue ter vergonha. Felizmente, o Grêmio sequer escutou o
que eles tinham pra dizer desta vez.
Falei tudo isso, na verdade, para glorificar a
apresentação de Carlos Tevez na tarde de ontem com a Bombonera, recebendo mais
de 50 mil torcedores. Tevez voltou para a sua casa, se disse feliz, falou que
dinheiro não compra felicidade, apesar de estar recebendo um bom salário para
estar lá. Tevez jamais cogitou jogar em outro clube na Argentina. Tevez tem
casa. Tevez tem vergonha na cara.
Juro pra vocês que o que eu havia idealizado para o Grêmio
e para o Ronaldinho foi o que se viu na tarde de ontem. Um Olímpico repleto de
gremistas e alguém que nós vimos ainda criança na escolinha do Grêmio refazendo
a sua relação com o clube. Retornando para a sua "casa".
Ronaldinho deu errado, Tevez deu certo. A diferença
real entre ambos eu, sinceramente, não sei. Posso dizer aqui, apenas, que gosto
de ter a minha casa, de ter onde ficar, de ter um lugar onde me respeitam, de
ser acolhido. Podem apostar que Tevez tem isso e Ronaldinho precisa pagar
alguma coisa para ter alguém por perto. Talvez seja essa a diferença.
(Prometo que essa será a última vez que falo sobre
isso por aqui)