quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

DOUGLAS AINDA É SUFICIENTE PARA O GRÊMIO?



Aproveito dois ganchos para lançar uma discussão sobre qual o tipo de jogador que precisamos: o primeiro vem do último post no nosso blog sobre a reapresentação do Grêmio para a temporada 2012. Nele, discutimos o plantel que inicia os trabalhos com os novos reforços (e algumas suposições acerca dos que ficam). O segundo vem de uma informação trazida pelo jornalista Mário Marcos sobre o papel do herege (cujo nome nós, gremistas, não devemos pronunciar) no reerguimento de um combalido Barcelona, cujo reconhecimento é bastante amplo, a partir do livro A Bola Não Entra Por Acaso, do então diretor financeiro do Barça de 2003 a 2008, Florián Serrano Ferrán Soriano*.

De fato: tanto em relação ao marketing quanto à necessária qualidade, o caçula dos Assis Moreira marcou época e foi um dos divisores de águas para o Barcelona nesse período. Todavia, um outro livro que estou lendo agora, Soccer Men, do mesmo Simon Kuper de Soccernomics, apresenta uma passagem interessante sobre a necessária saída de R10 do clube:

"Clubs also began to focus more on the physical and demanded that their players abandon rock-star lifestyles. Even Ronaldinho had to leave Barcelona when the club grew fed up with his partying every night, particularly after he began to take along the teenage Messi." (KUPER, 2001, p. XVIII)

Em uma tradução livre com direito às minhas impressões, à medida que a importância da responsabilidade com a preservação e com o aprimoramento do instrumento de trabalho do jogador (isto é, o seu corpo; não como um atleta 'bombado' mas, sim, forte com leveza e resistência) tornou-se a principal característica daquele profissional que hoje os clubes e a mídia da Inglaterra chamam de "líder do século XXI", o jogador "popstar" e boêmio perde espaço para aquele que dá o exemplo sem fazer estardalhaço – uma outra constatação de Kuper.

Percebam a diferença nos perfis dos técnicos José Mourinho e Josep Guardiola. Percebam a diferença na personalidade dos principais craques dos dois maiores clubes do planeta: Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Agora, vejamos: quem tem obtido resultados mais sólidos e vistosos tanto em quantidade como em qualidade nos últimos anos?

Voltando ao Grêmio: independentemente da falta de motivação relacionada à falta de parceiros competentes, infelizmente, o jogador Douglas desempenhou um futebol muito aquém do aceitável e possui um perfil boêmio. Ele não é mais um jovem com amplo mercado e dificilmente irá mudar o seu comportamento. Embora tenha contribuído junto com Ronaldo Nazário a partir de um plantel competente e bem treinado para uma Copa do Brasil pelo Corinthians, por mais que torça para me enganar feio, se o critério for o de qualificar com juventude para dar continuidade a um trabalho que se deseja vitorioso e melhorar a relação custo-benefício, Douglas não é um bom exemplo.

Precisamos muito de bons meias. As nossas categorias de base não formam um meia minimamente decente desde Carlos Eduardo, no já longínquo 2007. O último contratado que demonstrou identificação com a torcida e com o espírito do Grêmio foi Roger Flores, por um período efêmero, no primeiro semestre de 2008. Cogita-se a volta do mesmo Cadu por empréstimo e a forte tentativa de trazer o ex-T.A. Giuliano.

O técnico Caio Júnior utilizou, pelo Botafogo contra nós, no segundo turno do Brasileirão 2011, o mesmíssimo desenho tático conhecido por 4-2-3-1 utilizado pelo Barcelona de Guardiola (onde, recentemente, nosso novo treinador fez um breve estágio) - também usado pelo nosso técnico de então, Celso Roth. Perdemos por 1x0, num xadrez onde a vitória só seria possível a partir de diferentes valências em um campo cujo povoamento era exatamente o mesmo.

A diferença foi a vitalidade, a velocidade e a tendência para triangular e tabelar ao invés de carregar a bola ou de pensar demais com ela nos pés entre os três meias de ambas as equipes: o Grêmio, arrastado, atuou com Marquinhos, Douglas e Escudero; o Botafogo, por sua vez, foi incisivo com Maicossuel, Éverton e Elkeson. Claro que a lentidão de Gilberto Silva deslocado para a zaga e do insuficiente e titubeante Fábio Rochemback na volância ampliaram a nossa desvantagem técnica. Mas o perfil dos meio-campistas foi fundamental para o resultado negativo.

Douglas, para 2012, terá uma última chance. Ele precisa fazer valer cada centavo que o clube investe nele com uma certa urgência. Do contrário, terá que ser negociado, pois o custo de um jogador desses como uma reles opção no banco não compensa.

*Obrigado ao @JoMachado1 pela correção, pois eu havia escrito errado o nome do diretor do Barcelona! :)

@chegremista Hélio Paz
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