Na última quinta-feira (11.09), vivemos mais um
desdobramento do infeliz episódio do ato de injúria racial ocorrido na ARENA, e
desta vez com consequências alarmantes com o ato transloucado de um sujeito que
ateou fogo na casa da jovem Patrícia, que teve a infeliz ideia de agir
impensadamente ao gritar "macaco" para o goleiro Aranha (continuo com
curiosidade para saber a origem deste apelido), durante o jogo contra o Santos.
Supostamente o criminoso estava "enojado" das atitudes da jovem Patrícia,
e, portanto sabendo do clima de impunidade que existe nas leis em nosso País,
especialmente por experiência própria (estava cumprindo pena em liberdade
provisória), resolveu fazer "justiça pelas próprias mãos", e o fez
sem o menor receio de punição, até mesmo porque bastou ser preso novamente,
para momentos depois ser solto para sair tranquilamente e sem ser incomodado
para arquitetar o seu próximo crime.
Mas antes de me debruçar sobre este tema, registro
algumas premissas importantes para o contexto do meu comentário: 1) A Patrícia
errou, ou melhor, foi levada ao erro, uma vez que ela cresceu vendo a nossa
torcida gritando macaco para o nosso rival local, sim, sei, não justifica, mas
importante contextualizar; 2) A Patrícia teve um julgamento sumário da mídia,
sem direito a se manifestar e sem a isenção da situação, estava num estádio, no
calor da emoção de uma torcida, do alto da sua INEXPERIÊNCIA de 23 anos; 3) Não
existe torcida no mundo que não torne exacerbado as suas manifestações nas
arquibancadas; 4) Ajudou o fato do STJD ter condenado o GFPA de forma
educativa, e não pela obrigação técnica que devia atuar; 5) Condenar qualquer
ato discriminatório contra credo, raça, ou pensamento político deve ser o dever
de todos nós, mas contribuir numa farsa apenas para satisfazer o ego de uma
parte da mídia, também é algo CONDENÁVEL !
Feito esses comentários preliminares, passo a me focar no
problema central desta questão: o incêndio criminoso cometido contra a casa da
Patrícia e seus familiares tem uma origem conhecida, e também hipocritamente
omitida pela maioria dos nossos políticos, que é sentimento de total descrédito
nas instituições do estado brasileiro, em especial a justiça. A população cada
vez mais começa a decidir sobre o futuro de suas revoltas pessoais de forma objetiva,
e sem esperar os Governos agirem de forma equilibrada e justa como é o papel do
Estado numa democracia. Esse comportamento, antes restrito ao campo político,
começa a se alastrar também para as arquibancadas do futebol, contaminando e
confundindo ideologias políticas com paixões futebolísticas. Antes, ir à um estádio era um ato de paixão
futebolística, agora mais parece um big play ao vivo, onde a maior preocupação
não é o futebol, mas sim o movimento das arquibancadas, seja pelas brigas, seja
pelos atos de hostilidade. Vamos ficar no exemplo do nosso Grêmio, na ARENA foi
feito um espaço para as torcidas organizadas (sim para quem ainda não sabe,
aquele local é destinado para TODAS as organizadas, e não só para uma torcida
!!!), pensando em facilitar e acomodar melhor as nossas torcidas, sem contar na
ideia (pelo menos essa era a intenção) de se buscar diminuir os preços de
ingresso naquele local, sendo assim, o local ficou livre das cadeiras para
também manter a tradição de uma das torcidas organizadas, que é a comemoração
de cada gol com a famosa AVALANCHE !
Bem, assim foi feito, mas o que foi que aconteceu naquele local já na
inauguração da ARENA ? Uma estrondosa briga transmitida ao vivo para o mundo,
sob o olhar incrédulo do restante do estádio e da direção do clube, que vendo
tudo aquilo não conseguia entender porque que depois de tanto esforço houvesse
um vexame daquele tamanho numa parte do estádio adaptada especialmente para a
comemoração das Organizadas. O episódio
passou IMPUNIMENTE pela direção do clube, e por óbvio, novamente o sentimento
de impunidade que contaminou o tecido social de toda a nossa estrutura
familiar, acabou por chegar até as portas e arquibancadas do nosso estádio, e
novos fatos gravíssimos ocorreram também com a total PASSIVIDADE da direção do
clube, culminando com o lamentável fato ocorrido com o goleiro Aranha.
Mas por que a direção do clube não agiu lá atrás, de
forma preventiva, contra possíveis novos atos das organizadas ? Alguns dizem
que foi porque a direção avaliou (mal) que não aconteceria de novo, outros
comentam que qualquer ato de restrição contra as organizadas poderia refletir
num prejuízo político de imagem contra a atual direção, mas existem aqueles que
acham (e eu me incluo neste grupo) que foi pura COVARDIA, isto é, a atual
direção não teve coragem, responsabilidade e principalmente postura de agir
como o estatuto do clube prevê, isto é, ninguém pode provocar um tumulto dentro
das dependências do clube sem ser devidamente (e justamente) PUNIDO, como forma
também EDUCATIVA para mostrar aos associados e a nossa torcida que o Grêmio tem
uma direção preocupada não com seus interesses eleitoreiros políticos, mas sim
compromisso com toda a NAÇÃO TRICOLOR, que é o mínimo que esperamos dos nossos
governantes, e no caso particular aqui, dos nossos dirigentes.
Assim como um governo que mente para o seu povo, a
direção de um clube que se omite para a sua torcida perde o respeito e
credibilidade, sendo assim os torcedores começam agir segundo as suas próprias
convicções, porque tem a certeza da IMPUNIDADE, como foi o caso desta besta
humana que incendiou a casa da Patrícia e seus familiares, isto é, as torcidas vão
começar com brigas, evolui com atos passíveis de punição contra o próprio
clube, e daqui a pouco prendem fogo no circo, e a única coisa que vai acontecer
é a tristeza de toda a nossa torcida, e alegria psicopata de alguns poucos
doentes e malucos que travestidos de torcedores acabam com algumas vidas, e
prejudicando nações de torcedores apaixonados pelo nosso Grêmio. Até quando
vamos continuar a ver nossos dirigentes surdos para o clamor das nossas
verdadeiras expectativas, como é o caso de uma preocupação maior com o QS, uma
postura de parceria transparente com nossas torcidas organizadas, com o
compromisso de acabar de usar o clube para interesses políticos pessoais, e
principalmente se responsabilizar pessoal e juridicamente pelos atos frente aos
seus mandatos ? QUANDO ???
Estamos às portas de uma nova eleição para os cargos
executivos do clube, e também para renoção de 50% do nosso CD, então temos logo
ali na frente uma oportunidade de fazer valer a nossa voz, ou então se calar
diante de tudo isso com o risco de ser a próxima vítima de um demente que será
protegido pela mesma lei que foi feita para nos defender !!
E a escolha for a nossa omissão nesse momento, isso sim
será uma PENA VITÁLICIA !
RUMO AO G4
FÁBIO IRIGOITE
Ex-Conselheiro, Sócio desde 1993, Comentarista do Programa 2 Toques.