quinta-feira, 22 de setembro de 2016

NÚMERO DE GRUPOS NUNCA SERÁ SINAL DE FALTA DE UNIÃO OU FRACASSO

Coluna do Carlos Josias: Diretor Jurídico do Grêmio 93/98, Conselheiro 94/2010 e Vice-Presidente 2005/07










 
 
 
"Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente"
 
Com alguma frequência escuto criticas à quantidade de grupos políticos que giram em torno dos clubes. No caso vou me ater ao Grêmio, e que isto seria sinal de desunião e porta para o fracasso. Nem de fracasso nem de falta de união. Esta pergunta que rola nas redes e foi objeto de perquirição em recente jantar de chapa em Novo Hamburgo, merece reflexão maior do que meia dúzia de caracteres no Face ou no Twitter.
Ao longo da vida nos unimos a vários grupos. Mesmo nos primeiros passos da alfabetização, no ensino médio, fundamental, família, moradia, lazer, faculdade, trabalho e por aí vai, nos agrupamos. É da sociedade, é da pré-história.
Na sala de aula com 40 alunos, mais ou menos, é rotina a ligação de todos a pequenos grupos, de quatro ou mais nichos, e ali começamos a nos formar, crescer. Desde o Grêmio Literário aos Centros Acadêmicos. No condomínio, sempre há mais ou menos afinidade com vizinhos, latente em reuniões do lugar. Na rua, no bairro, na cidade, no clube associativo, no lazer - no futebol, no tênis, ou em qualquer esporte, somos assim. Na vida somos deste jeito. Temos um grupo na família, que envolve parentes paterno, materno, temos outro no trabalho, e assim caminha a vida, somos frutos desta convivência plural. É da essência da democracia o pluripartidarismo. Na felicidade ou na desgraça, comemoramos ou sofremos em grupos distintos, às vezes com amigos comuns há mais de um agrupamento, mas vivemos em grupos, é da natureza do ser humano, da sociedade. Pode até haver algum exagero em números de agrupamentos numa ou noutra circunstância. Mas o exagero, mesmo, seria se eles fossem reduzidos. É sinal de autoritarismo. Quando o poder, ou a opinião, se concentra e fica centralizado em poucos, bem, aí mora o perigo do autoritarismo, do ufanismo totalitário, característica do nazismo, fascismo - entre outros regimes de exceção - tendência para o exercício de forte controle autocrático ou ditatorial.
Vejamos no Grêmio.
As pesquisas apontam que o Grêmio teria o espantoso número de 7 milhões de torcedores. Não sou eu quem diz.
Temos cerca de 60 mil sócios, o que significa que cada sócio representa - se minha péssima matemática não me trair - 116 torcedores - me corrijam à vontade, como disse, sou péssimo no ramo, mesmo com calculadora.
O Grêmio possui 15 grupos políticos, o que significa que cada grupo representa 4 mil sócios, e por sua vez, representam um total de, arredondando, 467 mil torcedores.
São muitos grupos ? Isto se chama democratização da associação. Não, não são muitos grupos.
Estes 15 grupos se reúnem em 4 chapas. 4 Chapas representam 15 mil torcedores.
E por que estas 4 chapas estão divididas em diversos grupos cada uma, numa média de 4 grupos por chapa, mais ou menos ?
Afinidade. 4 chapas reúnem grupos que se afinam. Se não no todo em grande parte.
São muitos grupos e muitas chapas ? Que ruim ? Não, que bom.
Não, definitivamente esta pluralidade de grupos não denota desunião, fracasso, e seja lá o que adjetivarem. Cada uma tem postura e filosofia de encarar e projetar a vida do Clube de uma forma própria, com suas desavenças, divergências, mais ou menos fortes. Às vezes até ríspidas e ásperas umas com as outras.
No Grêmio sempre houve grupos, só que não organizados publicamente e com nomes escolhidos. Havia os Obinistas, os Odonistas, os Cacalistas, os Douradistas etc. O modelo antigo foi sucesso na época, sim. O mundo mudou. Continuasse o modelo antigo, que foi exitoso, é verdade, face à época, não teríamos eleição direta, fruto de uma reforma estatutária que tive orgulho de fazer parte dela. Continuasse como era o torcedor comum, que não é comum, nunca teria acesso a grupos e ao conselho e, consequentemente, à vida política da entidade.
O clube não sobrevive sem democracia. Paga um preço longo pela mudança, mas o fato é que no ponto, melhoramos. Voltar aos 17 é não ser sábio e competente.
Saudações Tricolores

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