Em 20 de setembro de 1935 nosso Estado comemorava,
orgulhoso, o centenário da Revolução Farroupilha. Incontáveis foram os eventos programados e as
atenções foram concentradas aqui pelo Brasil inteiro.
Na época era disputado o campeonato de futebol da Cidade,
competição das mais concorridas e cujo título era um dos mais cobiçados
especialmente pela dupla de maior rivalidade no nosso Rio Grande. Em homenagem ao centenário o citadino daquele
ano recebeu o nome de CAMPEONATO FARROUPILHA.
Foi o ano de maior expectativa do certame e acirrou a rivalidade e o
interesse como nunca. Era, para a época, o mundial, o cetro e o trono central
da história do futebol Gaúcho. O nosso
Grêmio estava demolidor nos jogos e passava por cima de todos até apareceu o
Força e Luz e nos enfiou 2 x 0 na Baixada em plena festa do nosso 32
aniversário.
Fomos para o GREnal de número 45 cuja vantagem era deles,
os vermelhos, o empate era deles. O
favoritismo era colorado e como acontece nestas ocasiões até sala no Barranco
fora reservada .... epa opa, acho que o Barranco ainda não existia - mas isto
aconteceu até na conquista do gol de nuca do Pedro Júnior. A cidade só não se
pintou totalmente de vermelho porque sempre fomos maioria, mas lá para lados
deles as faixas e aparatos do já ganhou
anunciando o campeão desfilavam.
Pois não é que pintaram 11 cachorros de vermelho, para
soltá-los na cidade após o jogo ? E
mais, cercaram a Baixada de caixas com pombos-correio que levariam a notícia
estado a fora. Depois a arrogância é
nossa.
O Grêmio foi para o jogo com dois problemas: precisava
ganhar, e a ´lenda` enfermo. Lara muito enfermo, com dores fortes no peito era uma ameaça infernal. Mas ele entrou
em campo. As lendas não nascem do nada. Elas fazem por merecer nascer.
Lara pegou tudo no primeiro tempo, mas não retornou para
o segundo. No seu lugar entrou um homem mais alto ainda do que ele e que eu
tive o prazer de conhecer, o Chico, cujos familiares, até hoje comparecem -
filha, netos .... - religiosamente ao
jantar Farroupilha, a meu juízo nossa festa mais comovente.
A torcida vermelha cantava o fim do jogo e o campeonato
porque a partida chegava ao final, o relógio já batia no final .... Soltaram os
pombos e os cachorros, antes da hora. Restando três minutos o árbitro marcou
uma falta próxima a área vermelha. Foguinho, orientou que Mascarenhas
cruzasse na cabeça do colorado Risada e avisou:
"ele vai rebater para frente". Não deu outra, cruzamento feito,
Risada rebateu no pé de Foguinho, que meteu de canhota e estufou os cordéis da
cidadela vermelha como narraria o Haroldo fosse vivo na ocasião. A Baixada veio
a baixo. Os colorados enlouqueceram. Na nova saída, erraram passes e perderam a
bola, que sobrou para Foguinho. Ele avançou pelo lado e tocou para a área, onde
Lacy escorou para o gol, ahahahahahah, 2 x 0 !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Enquanto os pombos levavam
a notícia errada para cidades do interior, os colorados choravam a derrota nos
bares da cidade. Dá prá imaginar o que eles fizeram com os
pombos ?????????????
A torcida tricolor festejou pelo Estado inteiro.
Dirigentes e jogadores foram confraternizar em um jantar. Em meio aos brindes,
o capitão gremista, Sardinha I, sentenciou:
"o dia
22 de setembro deveria ser comemorado durante os próximos 100 anos".
Não se tem noticia
de nada parecido no mundo, e até hoje, todos os dias 22 de setembro o Grêmio
realiza o Jantar Farroupilha e comemora o feito. A conquista tão desejada e obtida só no fim, reforçou um
senso comum que vinha se solidificando nos últimos anos: o Grêmio era o time
das vitórias difíceis, ou até impossíveis. Começava o mito da Imortalidade consagrado no hino do
nosso poeta maior. O Grêmio sempre pioneiro era disparado o clube do Estado
que mais vezes havia jogado contra adversários de fora e carregava o mito de se
recusar a perder e nunca se entregar.
Lara morreu pouco depois e o povão Gremista chorou a
partida do guerreiro que saia da vida mas ganhava a eternidade. Nascia a Lenda.
Lara tinha 38 anos quando nos deixou e ganhou 16 títulos
em 16 anos e o foi o goleiro que mas vezes defendeu nosso Grêmio. Morria prematuramente como a grande maioria
dos grandes heróis, coincidências da vida. Vinha com problemas de saúde e em
maio passou a sentir fortes dores no peito após um choque contra um atacante do
Santos. Hospitalizado detectou-se que tinha problemas cardíacos e os médicos
lhe disseram para parar com o futebol.
Mas ele não abriu mão de jogar aquele GREnal. Seu último
jogo. Ao entrar foi aplaudido de pé pela torcida que lotava a baixada. E muito
menos de com intensa dor deixou de comemorar com todos os companheiros e
direção mais uma conquista.
Lara, o craque imortal de um time imortal de um clube
imortal de uma torcida imortal.
@cajosias face C JOSIAS MENNA OLIVEIRA