O debate acima e um post recente no meu blog pessoal servem como ponto de partida para discutirmos juntos uma de minhas maiores preocupações atuais sobre o Grêmio: o aproveitamento dos jogadores oriundos de nossas categorias de base associado à gestão da carreira dessa gurizada.
Como todos sabem, o futebol profissional de alto nível é um dos principais negócios mundiais na área do entretenimento: toda paixão se trata de um bem intangível que pode ser trocada por uma infinidade de bens tangíveis. Ao mesmo tempo, a estrutura do futebol brasileiro infelizmente permite que a esmagadora maioria dos dirigentes eleitos pelos sócios ou definidos pelos conselheiros dos clubes não seja remunerada por estatuto.
Independentemente do grau de dedicação e de competência, do desprendimento e da honestidade desses abnegados para com o clube, é inegável que é necessário ser um cidadão de posses para poder assumir uma presidência ou uma vice-presidência: ou é um empresário de sucesso, ou é um profissional liberal em fase avançada da sua carreira ou, ainda, um aposentado advindo de um cargo público de alta remuneração. Ora, essas credenciais não são suficientes para comprovar a competência e o conhecimento técnico e empírico desses raríssimos privilegiados disponíveis para se tornarem vidraça e deixarem o anonimato e a tranquilidade das suas vidas prívadas.
No caso específico do Grêmio, esse fato resulta em uma série de problemas, a saber:
1) FALTA DE RESPEITO DOS "CASCUDOS": jogadores experientes que recebem um alto salário tendem a ser arredios em relação aos mandos dos dirigentes. Primeiro, porque os dirigentes não ganham nada para - supostamente - "mandarem" nos jogadores; segundo, porque nem o discurso da paixão desses abnegados pelo clube e nem referenciais como a sua profissão, classe social ou faixa etária significam absolutamente nada para a maioria dos boleiros. Afinal de contas, a maioria dos jogadores que vem de fora trazidos a peso de ouro dificilmente entendem dimensão da cultura do torcedor aliada à tradição, que geram a IDENTIDADE necessária à sedimentação da GRANDEZA do clube;
2) OS EMPRESÁRIOS MANDAM NOS CLUBES: sempre que verificamos o subaproveitamento de vários bons jogadores vindo da nossa base no profissional, podem ter certeza de que nem os dirigentes e nem o técnico mandam no futebol como deveriam mandar. Com isso, não acuso nenhum dirigente de omisso ou como recebedor de propina mas que, em sua maioria, acreditam que tal jogador poderá ser vendido mais rapidamente ou que o respectivo empresário trará jogadores melhores a um preço mais em conta caso fulano ou beltrano sejam utilizados no time titular. Particularmente, acho que a raiz dos problemas do Grêmio desde a gestão Guerreiro também possuem esse vício de origem. Parafraseando o nosso hino, "dirigente que não tem virtude acaba por ser escravo".
Essa situação é particularmente nociva quando verifica-se que o clube investe pesado em profissionais de recrutamento, avaliação técnica, nutrição, fisiologia, preparação física, psicologia, medicina e assistência social e os empresários passam o conto no dirigente do Departamento Profissional que, por sua vez, barra a utilização do guri da base para contratar verdadeiras nabas sob a promessa de que o clube irá receber um pacote de reforços bons e baratos no início da temporada seguinte – algo que raramente ocorre.
3) INTOLERÂNCIA AO ERRO DOS MENINOS: há uma casta de dirigentes à moda antiga insensíveis para o fato de que o boleiro não é um super-homem. Qualquer jogador é tão suscetível às tentações da vida quanto aos azares e as tristezas. Quando se é adolescente, se tem dinheiro, pouco estudo formal e se está longe dos pais, então, nem se fala! Quem é ou já foi adolescente sabe que é de pequeno que se torce o pepino: a formação do caráter depende de uma boa dose de amizade, respeito, presença paterna e materna constante (nem que não sejam exercidas pelos pais biológicos), compreensão de que certas coisas devem ser permitidas e outras precisam de um limite.
Com isso, afirmo que o Grêmio perde muito tempo e muito dinheiro na formação de bons meninos que deixam de ser aproveitados por nós e que, consequentemente, farão sucesso dentro de poucos anos em outras paragens porque muitos dirigentes preferem compensar a sua própria falha emocional contratando jogadores medíocres e ruins. Dessa forma, liquidamos o nosso maior ativo, que são jogadores formados com melhor educação formal, com o início do conhecimento de outros idiomas, com dupla cidadania, com um entendimento tático acima da média e com um preparo físico mais apurado do que na base da maior parte dos clubes europeus. Se não produzimos diamantes com frequência, essa prática infeliz faz com que nossos rubis, safiras e topázios sejam negociados como bijuterias vagabundas. A nós, restam apenas as bijuterias usadas e – muitas vezes – avariadas.
Enfim… Quebra-se a cultura tática, técnica, vitoriosa e apaixonante de raízes socioculturais marcantes para promover-se não um acréscimo enriquecedor mas, sim, maus resultados em campo.
Vou chover no molhado: a sequência de maus resultados resulta em um jejum de títulos, no êxodo de torcedores e no baixo crescimento do número de sócios. Em suma, temos uma perda significativa de receita, pois não são apenas os sócios que se vão ou os adversários que perdem o medo do Grêmio em nossos domínios mas, sim, os patrocinadores que só aceitam fechar conosco por valores aviltantes e o crescimento de uma imagem de clube perdedor, incompetente e desorganizado perante a mídia, os adversários e os investidores em geral.
Seja em gestões do G4, seja em gestões do G7, desde que o dr. Fábio Koff deixou a presidência no final de 1996, os profissionais da base que decidiram cobrar dos dirigentes uma solução para esse ACADELAMENTO diante dos empresários foram sucessivamente LIMADOS da vida do clube.
Uma solução que já foi implementada no Grêmio durante a direção das categorias de base realizada por Paulo Roberto Deitos capaz de minimizar o assédio de empresários às famílias dos melhores jogadores e de aumentar o tempo em que eles permanecem no Grêmio:
– Trazer os pais desses meninos para conhecerem toda a estrutura física e técnica do clube em um fim de semana de jogos decisivos das categorias de seus filhos: um bom hotel, um bom passeio por Porto Alegre, um processo de IMERSÃO TOTAL no Memorial, uma palestra com dirigentes históricos e com ex-craques multicampeões sobre DO QUE É FEITO O GIGANTESCO GRÊMIO FBPA.
Pois esse investimento de algumas dezenas de milhares de reais feito duas vezes por ano tende a render aos cofres do clube vários milhões.
E o mesmo vale para os medalhões: a presença de jogadores desmotivados, burocráticos e caríssimos dentro do nosso grupo como Gabriel, Douglas e Fábio Rochemback só terão condições de darem o necessário algo a mais pelo nosso Grêmio caso entendam aonde eles estão, com quem eles estão lidando e por que estão aqui.
QUEM PASSA PELO OLÍMPICO APENAS DE PASSAGEM NÃO MERECE ESTAR AQUI. #ficaadica
@heliopaz @chegremista